A adolescência dá início ao período da
independência, no qual o jovem anseia por autonomia e liberdade, travando uma
luta entre si e o ambiente para definir sua identidade. É uma fase em que
emergem conflitos e questionamentos acerca das introjeções familiares e da
sociedade, em que o adolescente toma consciência de que a individualidade só
pode ser obtida mediante a separação subjetiva dos pais (discriminação do que é
dos pais e do que é seu), a libertação da confluência familiar, a renúncia ao
vínculo de dependência da infância. O ato de libertar-se
das introjeções direciona o adolescente para o egotismo funcional, por meio do
qual o eu se torna centro de tudo, impulsionado por forças internas
(biológicas, psicológicas) que lhe permitem definir-se e decidir-se como sujeito,
autor da própria história, senhor dos seus projetos, vontades, desejos e
necessidades.O corpo torna-se
figura na relação com o mundo e com o outro, desencadeando processos
psicológicos que abrangem desde a não aceitação da mudança morfológica (luto da
perda do corpo infantil) e a recusa do corpo como objeto de desejo sexual, até
a ansiedade em lidar com a excitação sexual organísmica natural que induz o
adolescente a experiências de autoerotização, atividades masturbatórias,
fantasias sexuais e ao desejo sexual dirigido ao corpo do outro. Ao ampliar sua
capacidade de reflexão sobre si e o próprio corpo, o outro e seu corpo,
reconhece viver um processo de intersubjetividade e intercorporeidade, em que o
outro é importante na constituição do seu eu, na formação de sua autoimagem
corporal, na renovação de seus valores e crenças. O organismo, em intensa
transformação biológica e psicológica – o qual suscita percepções, desejos,
pensamentos e fantasias – passa a ser, nas palavras de Merleau-Ponty (2000),
corpo vidente e visto, sentiente e sentido, tocante e tocado, desejante e
desejado, despertando para outro corpo-sujeito e sendo despertado pelo outro-corpo-eu – adentrando assim no reino da sexualidade e da afetividade amorosa.
Trecho extraído do livro "Gestalt-Terapia: modalidades de intervenção clínica", escrito em co-autoria com Rosana Zanella.
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