A encoprese é a
evacuação parcial ou total na roupa que acontece depois da idade normal de
aquisição do controle (a partir dos 4 anos). Em geral essas crianças apresentam
dificuldades no controle da agressão e toleram mal as frustrações. São crianças
emocionalmente dependentes e inseguras. A encoprese é uma forma de expressar
sentimentos de oposição, frustração
e ansiedade diante de certas situações específicas, nas quais se sente ameaçada, desvalorizada, instituindo o conflito do poder e do controle entre ela e o ambiente.
Considera-se que as
fezes tem o significado de "tesouro" ou de
"nojo/repugnação", significado que dependerá das vivências que a
criança teve ou tem com a mãe e o pai no treinamento da retenção e da expulsão
das fezes. Se os pais ao ensinarem para a criança o controle das fezes, agem
com desejo (vamos fazer cocô) e prazer quando ela evacua no vaso (que bom que
fez, Parabéns! Tchau cocô!), ela entenderá que aquilo que sai do seu corpo é
agradável para os pais, é um tesouro que faz os pais vibrarem com ela e o seu
produto. Assim ela pensa que é amada e vale a pena entregar algo produzido por
ela para os pais, merecedores desse objeto que simboliza o amor entre eles.
Com a aquisição do
controle esfincteriano, a criança experimenta, pela primeira vez, o sentimento
de propriedade em relação aos seus excrementos, enquanto objeto de troca
(DOLTO, 1980, p.27-68), se vendo agora imbuída, ela própria, do poder de
atender ou não às demandas da mãe (a mãe é a primeira a dar inicio ao processo
controle dos esfíncteres). Assim, instala-se o conflito do controle x descontrole
do corpo e das emoções, do dilema de dar x receber.
Nesse período
específico a criança é chamada a renunciar ao objeto fezes que é uma parte dela
mesma (e que ela entende que é ela também). Para que a criança possa
atender o desejo ou apelo dos pais é preciso que a mãe mostre que deseja que
ela vá para o vaso e entregue as fezes como prova de amor. No entanto, é
preciso também que a criança demande à mãe, como demonstração de que entendeu que há o desejo
anterior da mãe (vamos fazer cocô? você quer fazer cocô?). Quando há o distúrbio da
encoprese, a criança não sente confiança, segurança, o cuidado atencioso vindo
dos pais e decide não ceder o objeto fezes em favor do amor a eles. As emoções
predominantes nesse conflito são: o medo, a raiva, a ansiedade, a vergonha. A
criança ao eliminar o cocô descontroladamente nas calças, pode estar querendo
dizer: “eu sou um cocô, aqui está um cocô, estou me cagando de medo, estou descontrolado". Há teóricos que afirmam que a criança,
quando retém as fezes na cueca, expressa uma necessidade de encobrir o ânus,
como proteção de algo externo gerador de ansiedade e medo, o que pode ser uma
defesa contra a manipulação de seu ânus.
A criança quando retém as fezes e solta ao sentir vontade/necessidade, indica ter controle e possuir uma integração psíquico-corporal. Quando ela simplesmente elimina as fezes e a urina, logo após negar que não tem desejo de fazer xixi ou cocô, quando os pais
perguntam, é como se recusasse dar algo precioso dela para os pais, o que nos leva a pensar que essa atitude de negação e não controle pode indicar uma forma de punição, de expressão de
raiva aos pais por não estarem oferecendo um ambiente de segurança,
estabilidade, escuta a sua ansiedade e medo.
Olá Sheila!
ResponderExcluirGostei muito do seu texto. Tem alguma bibliografia que você usou como referência para chegar a esta intretaca? Gostaria de saber mais sobre o assunto, se tiver alguma dica de bibliografia eu aceito.
Desde já agradeço.